Celular em sala de aula
O telefone celular é, certamente, uma das mais
celebradas invenções da humanidade. Tornou-se objeto do desejo não
apenas no sentido de termos acesso a um aparelho qualquer ou aos
serviços a ele relacionados. A constante atualização de seu design e
possibilidades técnicas (cada vez mais ampliadas) estimulada por
acirrada competição entre empresas poderosas (Nokia, Motorola, Sony
Ericsson, LG, Apple...) faz com que as pessoas, no mundo inteiro,
troquem de aparelhos com enorme constância.
O uso dos celulares, no entanto, traz não apenas
benefícios, mas em alguns casos, gera transtornos e dificuldades. Existe
certa “ética” quanto ao uso do celular, que não é explícita, mas
oculta e imperceptível, a orientar a maioria das pessoas.
Sabe-se, por exemplo, que em locais públicos, como
cinemas ou teatros, é preciso desligar os celulares ou, na melhor das
hipóteses, deixá-lo em modo de vibração, para que os demais presentes
não sejam incomodados em caso de telefonema. É esperado que as pessoas
ajam desta forma, mas nem sempre é o que acontece.
Outra “regra de ouro”, se assim as pudermos chamar,
estipula que as pessoas devem utilizar seus celulares sempre de acordo
com suas necessidades, sem exageros. Ainda assim, há muitos homens e
mulheres que, até mesmo para exibir-se publicamente, ostentam seus
modernos aparelhos, realizando o uso indiscriminado da telefonia
celular a todo o momento, mesmo naqueles em que não há nenhuma aparente
necessidade (ou seja, por motivos totalmente fúteis).
É certo também que existem leis, como aquelas
relacionadas ao trânsito, que abertamente condenam o uso de aparelhos
celulares pelos condutores de veículos. Estas leis preveem sanções,
multas e até mesmo, com o acúmulo de pontos, a perda da carteira de
motorista. Mas ande no trânsito em qualquer lugar do Brasil e perceba,
ao seu redor, se os motoristas estão minimamente preocupados com sua
segurança ou mesmo com as multas que a eles podem ser aplicadas quanto
ao uso dos celulares...
O exagero no uso dos telefones celulares, além dos
inconvenientes na vida cotidiana, tem ocasionado também problemas
invisíveis a “olho nu”, ou seja, que precisariam de microscópios para
serem detectados e tratados. Estas dificuldades vão além daquilo que
pode ser considerado prejuízo no trânsito, nos cinemas, em locais de
trabalho... Refere-se à overdose de informações e de ligação com o
mundo (profissional ou pessoal). Tratam-se, portanto, de problemas que
estão relacionados a stress, ansiedade, depressão e afins – de fundo
psicológico e emocional.
O fato de estarmos “ligados” pelas Tecnologias de
Informação e Comunicação, entre as quais temos que incluir os celulares,
cada vez mais integrados a todas as redes, não apenas via telefonia,
provoca ou estimula problemas psíquicos em todas as faixas etárias,
inclusive crianças e adolescentes. É claro que não pode e nem deve ser
considerado fator primordial e único para que isto aconteça, mas
certamente contribui e reforça sintomas e dificuldades decorrentes de
um todo, associado à velocidade e as cobranças cada vez mais acentuadas
do mundo em que estamos vivendo.
Nas escolas não é diferente. Há os problemas
relacionados à ética quanto ao uso de telefones celulares que, para
princípio de conversa, deve começar com os profissionais que atuam nas
escolas. Diretores, coordenadores, orientadores, funcionários em geral
e, principalmente os professores, devem desligar seus aparelhos quando
estiverem trabalhando ou, caso seja muito necessário e acordado com os
demais colegas, manter em modo de vibração (silencioso) para que as
mensagens e ligações fiquem em arquivo e depois possam ser respondidas.
Em sala de aula, especificamente, o toque de um
celular, ainda mais com a variedade de músicas e demais estilos (muitos
deles cômicos) pode atrapalhar consideravelmente o andamento das ações
previstas pelo professor. Portanto, o exemplo começa com ele e, depois,
deve ser combinado com os alunos, seguido das devidas explicações, ou
seja, dos motivos que levam a escola (sim, a instituição e não apenas o
indivíduo, o profissional) a pedir aos alunos que deixem seus
celulares desativados durante o dia de atividades educacionais.
Isto, certamente, inclui a questão do envio de
torpedos com mensagens de texto. Esta prática, ainda que silenciosa,
tira o foco dos alunos e pode, em muitos momentos, ser utilizada para
fins indevidos, como passar respostas em provas ou testes...
Na hora do intervalo, na mudança de professores
(período entre uma aula e outra), daí sim é possível que alunos e
professores examinem seus celulares para verificar se há mensagens
importantes ou telefonemas de retorno necessário. Ainda assim, cabe
lembrar que isto não deve se tornar uma “neurose”, ou seja, não devemos
nos tornar escravos do aparelho e dos serviços, tendo que a toda hora
conferir as mensagens (como já foi detectado, por exemplo, com as
pessoas que trabalham muitas horas por dia diante do computador e que
se sentem compelidas a ver e-mails, atender comunicadores instantâneos,
responder mensagens no Twitter...).
No caso das salas de aula, por outro lado,
diferentemente do que se pensa, os celulares não precisam ser vistos
apenas como problemas ou dificuldades. Além de canais de comunicação
com as famílias e os amigos, ou mesmo entre a escola e os alunos, estes
aparelhos podem ainda se tornar elementos de aprendizagem, incluídos
em projetos educacionais.
As peculiaridades destes equipamentos, cada vez mais
equipados, contando com recursos como câmeras (que fotografam e filmam
com boa qualidade de som e imagem), gravadores de áudio, calendários,
comunicadores instantâneos (envio de torpedos), calculadoras e tantos
outras ferramentas – possibilitam a criação de projetos e ações
pedagógicas que não podem e nem devem ser desprezadas.
Entrevistas, criação de banco de imagens, gravação
de minidocumentários, elemento de comunicação entre alunos e dos
estudantes com os professores, envio de mensagens sobre dúvidas e
avaliações, utilização de agendas dos celulares para organização da
vida escolar... São algumas das possibilidades de trabalho com o
celular em sala de aula. Há inúmeras outras que podem ser pensadas e
criadas pelos professores, se transformando em projetos que, com
certeza, serão bastante atraentes aos olhos dos alunos!
Neste sentido, chegamos à conclusão de que, ao mesmo
tempo em que o celular deve sofrer algumas restrições de uso nas
escolas, tanto para permitir um melhor andamento das ações pedagógicas
quanto para “desligar” um pouco os alunos do ritmo frenético em que
vivemos, é possível tornar este equipamento, tão popular e acessível,
igualmente num elemento de trabalho educacional com a criação de
projetos que o incluam como ferramenta de pesquisa e produção. Então,
que assim seja!
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